Há quem diga que o lar é onde nosso coração está, e eu acredito. O que não se costuma pensar é que isso não significa viver um amor eterno.
Um dos maiores aprendizados que adquiri viajando pelo Brasil é que chorar em Paris não será menos triste do que chorar no seu quarto no interior de um lugar qualquer.
— Não, eu não estive em Paris ainda.
Depois de quase um ano levando uma vida nômade, morando em diferentes cidades do Brasil, posso dizer que já tive vários momentos de tristeza, mesmo estando bem pertinho de lugares turísticos lindos — e cá entre nós, ô país lindo esse nosso, viu?
Sob um olhar melancólico, a tristeza tira as cores do mundo, então não importa quão verde e florido esteja o lar, ninguém perceberá quando estiver deprimido.
Também descobri que lugares perfeitos existem; o que não existe é um consenso sobre isso entre as pessoas. Em poucas palavras, todos os lugares são perfeitos para alguém.
No fim, tudo é questão de perspectiva.
Uma questão de perspectiva do lar
Quando chegamos a um lugar turístico, surge a súbita e animada sensação de estar ali. Mas o encanto logo se esvai na primeira segunda-feira de trabalho, na pilha de louça para lavar e em qualquer outra atividade rotineira; porque um lar é assim.
A felicidade é uma questão de perspectiva e expectativa. É claro que estar em um lugar agradável nos faz feliz naquele momento, assim como estar com pessoas que gostamos ou assistir a um filme divertido.
Já conversei com pessoas que não estavam tão felizes em morar naquele lugar, o mesmo lugar onde eu estava achando incrível morar. Isso porque a pessoa precisava utilizar dois ônibus por dia e dizia que o transporte público não funcionava bem, ou porque a pessoa mora em um local onde a estrada não está tão bem conservada quanto o resto da cidade.
Também encontrei pessoas reclamando do trânsito caótico de uma cidade que, na minha experiência, tinha o melhor trânsito de todas as cidades pelas quais eu havia passado. O que me fazia feliz, parecia não existir para outras pessoas.
— É porque tu não sabe como é o trânsito no lugar onde eu estava antes!
E faz diferença saber?
Não! É a perspectiva dele com base na experiência que ele vivencia ali. Quem se sentiria aliviado diante de uma situação difícil só porque, em algum lugar do mundo, alguém está numa situação pior?
Como ser feliz: um experimento com 100 pessoas
Dias atrás, encontrei uma série na Netflix chamada “100 Humanos – Respostas para as Questões da Vida”. A série apresenta um experimento diferente em cada episódio realizado com 100 pessoas de diferentes idades e gêneros.
Para cada experimento, são realizadas algumas atividades com foco no tema principal da pesquisa. Um dos experimentos buscava responder à pergunta: como ser feliz?
Algumas atividades tiveram resultados previsíveis, mas duas delas se destacaram.
Em uma das atividades, os 100 participantes foram separados em dois grupos. A um deles foi oferecido $100.00 para quem conseguisse montar a maior torre utilizando os objetos fornecidos pelos pesquisadores. Ao outro grupo, a mesma atividade deveria ser realizada apenas por diversão, e nenhuma recompensa foi oferecida ao vencedor. Cada grupo foi dividido em pequenos grupos de quatro pessoas, e juntos deveriam montar a torre.
No grupo que estava realizando a atividade por dinheiro, o silêncio dominava a sala. Cada participante conversava com seus parceiros de grupo com cuidado para que os outros não escutassem sua estratégia; a atividade estava sendo executada sob tensão.
Já na sala do grupo que executava a atividade por diversão, era uma algazarra. Os participantes se arriscavam mais, riam mais e conversavam mais entre si, sem medo de tentativas.
O resultado final indicou que no grupo em que as pessoas estavam executando a tarefa por diversão, mais participantes conseguiram montar a torre do que no grupo que estava realizando por dinheiro.
Isso nos faz pensar que não basta ter uma recompensa; se o momento não for prazeroso, não conseguimos dar o nosso melhor nem enxergar “fora da caixa”. A tensão é inimiga da criatividade.
Em outra atividade, mais uma vez, os 100 participantes foram divididos em dois grupos. Os dois grupos deveriam assistir a um vídeo de pessoas se dando mal em acidentes.
Para um grupo, o vídeo foi apresentado com uma música de fundo animada e sons de risadas nos momentos dos desastres. Para o outro grupo, o mesmo vídeo foi exibido com música de fundo de suspense.
O grupo que assistiu ao vídeo com o som de risadas caiu na gargalhada a cada desastre exibido. Já o grupo que assistiu ao mesmo vídeo com som de suspense ficou chocado e tenso durante toda a exibição.
Com essa última atividade, os pesquisadores concluíram que o riso é contagiante, mesmo em situações de humor duvidoso. E para o nosso cérebro, o riso é um gatilho para a felicidade.
Minhas conclusões
Os experimentos que assisti na série da Netflix só confirmam o que muitos de nós já sabemos, mas acabamos ignorando, com tanta coisa para absorver.
A felicidade é um estado de espírito que nem sempre estará presente. Podemos ter momentos de alegria e euforia por estarmos vivendo determinadas situações. Mas se a tristeza for genuína, não tem jeito; é preciso encará-la e esperar que passe, ou apenas aceitar sua presença e acostumar-se com ela.
Eu escrevi este texto para despertar essa reflexão em você, leitor, que às vezes está esperando a mudança acontecer do lado de fora, mas ela nunca vem, e a dor se intensifica por baixo de tantos esforços.
Lar é onde o coração está, e às vezes ele não está bem; e às vezes ele nem nos acompanha. Aí nos resta nós mesmos com o que temos.
Mas vou parar por aqui, antes que meu lado melancólico tome conta deste texto, e eu prometi que não faria isso, não aqui.
Até a próxima, então.