Vez ou outra, a informação de que as pessoas estão lendo menos surge para assombrar aqueles que estão envolvidos com os livros de alguma forma.
Quem trabalha com livros sente o impacto financeiro dessa falta de leitores, enquanto os leitores percebem suas opções tornando-se cada vez menos acessíveis devido à baixa procura.
Mas, considerando que os livros não são os únicos objetos de leitura, seria correto admitir que as pessoas estão lendo menos?
Antes de responder a essa pergunta, precisamos entender o contexto atual da leitura. Então, vamos lá.
Como desenvolvemos a capacidade de leitura?
Não nascemos com o cérebro preparado para ler, assim como nascemos preparados para falar, por exemplo.
As crianças aprendem a falar a língua do ambiente em que vivem sem a necessidade de serem ensinadas, graças às redes de neurônios responsáveis pela fala em seus cérebros.
A leitura é uma habilidade que nosso cérebro aprende fazendo várias ligações de neurônios.
Já escrevi um artigo explicando com mais detalhes o que acontece em nosso cérebro quando lemos; é fascinante.
Se a leitura é uma habilidade aprendida pelo nosso cérebro, isso significa que ela não ocorre da mesma maneira em todos os cérebros e também não funcionará da mesma maneira para sempre.
Nosso comportamento enquanto leitor está mudando
A forma como consumimos a leitura tem se modificado ao longo dos anos, e isso está relacionado à maneira como a leitura chega até nós.
Hoje em dia, consumimos uma infinidade de informações diariamente, e esse consumo acelerado tem nos tornado intolerantes a atividades lentas ou a momentos de tédio.
Com essa enxurrada de informações, recebemos fragmentos de texto todos os dias.
Uma pesquisadora da leitura chamada Marianne Wolf mencionou em seu livro “O cérebro no mundo digital” uma pesquisa realizada pelo Global Information Industry Center da Universidade da Califórnia para determinar a quantidade de informações que uma pessoa utiliza diariamente através da internet.
O estudo concluiu que gastamos por dia uma média de 34 gigabytes em vários dispositivos.
Agora, vem a parte mais interessante.
Esses 34 gigabytes equivalem a cerca de 100.000 palavras. É como ler um romance com mais de 300 páginas por dia! Mas, com a diferença de termos nossa atenção cortada em fragmentos.
Além disso, para lidar com tanta informação, nosso cérebro está se acostumando a realizar o que chamamos de “leitura por cima” ou, em termos mais técnicos, “escanear o texto”.
O que significa escanear um texto?
O escaneamento de um texto ocorre quando a pessoa não lê todas as palavras escritas; em vez disso, faz um escaneamento, passando os olhos pelas informações que considera mais importantes.
O escaneamento de texto é uma forma de leitura dinâmica que normalmente ocorre de maneira natural quando lemos textos online.
Isso ocorre porque, ao buscar uma informação, é comum nos depararmos com dezenas de abas abertas em nosso computador, o que demandaria muito tempo se lêssemos cada palavra em cada um daqueles textos.
Em seu livro, Marianne Wolf descreve que ainda não se sabe quais são as consequências do hábito desse tipo de leitura em nosso cérebro, mas ela e outros estudiosos da leitura temem que possa se tornar uma prática também na leitura de livros.
Aqui entre nós, vejo a leitura de um livro como um exercício de concentração e paciência. Pois, ao longo dos anos, percebi que estava ficando impaciente com leituras longas e com baixo nível de concentração, e esse é apenas um dos benefícios que a leitura de livros nos proporciona.
Agora, considerando essas informações, podemos dizer que as pessoas estão lendo menos?
Afinal, as pessoas estão mesmo lendo menos?
Na verdade, as pessoas estão lendo mais — a questão é a qualidade dessa leitura.
E quando menciono qualidade, refiro-me ao nível de concentração que dedicamos àquele momento.
Estamos constantemente lendo fragmentos de informações. Isso indica que conteúdos escritos são amplamente consumidos, embora de maneira dinâmica e fragmentada.
O que tem diminuído é a leitura de livros completos, a leitura concentrada e o pensamento crítico após a leitura. Marianne Wolf aborda o seguinte em seu livro:
Em discurso a estudantes da Hampton University, lembrado pelo jornalista e escritor David Ulin, Barack Obama manifestou a preocupação de que a informação tenha se tornado para muitos de nossos jovens “uma distração, uma diversão, uma forma de entretenimento e não um meio de empoderamento, um instrumento de emancipação”.
O que fazemos com a quantidade de informações que recebemos todos os dias?
O hábito de conhecer superficialmente tudo vem me incomodando há algum tempo. Nas minhas redes sociais, reduzi a quantidade de páginas de jornais que seguia para me manter informada. Também deixei de seguir outro tanto de páginas que ensinavam sobre assuntos que eu estava interessada em aprender naquele momento.
Porque percebi que era uma ilusão. Quando estou navegando pelo meu feed, não estou interessada em estudar; é um momento de lazer. As informações aparecem misturadas com outras que não têm nada a ver umas com as outras.
Era uma mistura de informações e nada era retido. Um cansaço mental desnecessário.
Para concluir, deixo o meu convite à reflexão da seguinte questão: por que tem sido mais fácil ler milhares de informações desconexas e, na maioria das vezes, desnecessárias, do que um livro interessante por vez?
E por falar em livro, conheça minha lista de livros favoritos, sua próxima leitura pode estar ali.
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