FOMO são as letras inicias da expressão em inglês “Fear of missing out”, que, em uma tradução livre, significa “Medo de ficar de fora”.
Não gosto desse negócio de norte-americanizar as expressões quando temos uma língua tão rica capaz de suprir cada uma delas, mas é assim que funciona, então, bora lá.
As pessoas que sofrem de FOMO sentem a necessidade de fazer parte de um grupo ou, ao menos, de estar por dentro do que está acontecendo com outras pessoas, o que também é uma forma de pertencimento.
Tenho notado que esse pode ser o problema que leva muitos leitores a amarem mais os livros do que a própria leitura, mas te conto logo mais o porquê.
Esse “medo de ficar de fora” está relacionado ao sentimento de ansiedade. FOMO é considerada uma síndrome que afeta as pessoas há bastante tempo, mas que tem se intensificado com a evolução das redes sociais.
A FOMO vem evoluindo com as redes sociais
A crescente presença das redes sociais em nossas vidas intensificou a necessidade das pessoas de participarem de tudo que está acontecendo ao seu redor.
Antigamente, ficávamos sabendo apenas sobre a vida das pessoas próximas a nós, por meio de seus próprios relatos. Atualmente, acompanhamos em tempo real um recorte do que qualquer pessoa está fazendo em qualquer lugar do mundo.
Esse comportamento nos dá a falsa sensação de precisarmos estar presentes, seja participando ativamente ou acompanhando minuto a minuto.
Para aqueles que estão sempre online: experimente passar uma semana desconectado. A experiência muitas vezes é de solidão, como se estivesse vivendo em outro planeta.
Pelo menos foi o que eu senti quando passei um bom tempo apenas no mundo real.
Minha experiencia após 30 dias desconectada
Certa vez, passei 30 dias sem acessar qualquer rede social. Nos primeiros dias, senti que estava perdendo algo, como se muitas situações importantes estivessem acontecendo sem mim. Também pensei na quantidade de pessoas que notariam minha ausência — depois, descobri que ninguém notou.
Com o tempo, comecei a apreciar o sentimento de alívio por não estar bombardeada por tantas informações inúteis. A ansiedade também não me afetava mais. Estava simplesmente vivendo minha vida e cumprindo minhas responsabilidades, sem me preocupar com o que acontecia com todo mundo o tempo todo.
Para evitar me sentir alienada, reservava alguns minutos do meu dia para ler as principais notícias, mas só me aprofundava naquilo que considerava verdadeiramente importante para mim.
Durante esse período, percebi o quanto as redes sociais ocupavam meu tempo, mas que a verdadeira vida estava passando despercebida.
Pois bem, o tempo passou e eu precisei retornar ao fantástico mundo online, porque, apesar dos problemas, não podemos negar os benefícios que essa tecnologia nos proporciona.
Desde então, tenho tentado não ser engolida pelas milhares de informarções que preenchem as redes sociais e a nossa vida.
O grande lance é sabermos utilizá-las e dominá-las.
Como mencionei no início deste texto, esse medo de ficar de fora não é uma questão exclusiva do período tecnológico em que estamos vivendo.
Aliás, hoje eu sei o quanto a FOMO prejudicou meu desenvolvimento pessoal desde a adolescência, quando a internet não tinha essa onipresença de hoje. E é sobre essa experiência que escrevo a seguir.
A FOMO para além das redes sociais
Quando entrei na adolescência, como muitos jovens, senti a necessidade de fazer parte de um grupo. Mas claro, essa necessidade não era aparente; era mais como uma certeza de que as coisas deveriam funcionar daquela maneira.
Sendo assim, vesti inúmeras máscaras para me encaixar no grupo do momento. Também adotei gostos e hábitos que não eram meus, tudo isso para estar naquele meio. Não fazer parte significaria meu fim, uma espécie de morte em vida.
E assim segui, sufocando minha personalidade antes mesmo de ela florescer, e me adaptando ao ambiente do qual escolhia fazer parte.
O problema é que quando as ações não são sinceras, elas acabam perdendo o sentido com facilidade. Mas o próximo grupo surgia, e eu precisava me reinventar de novo e de novo.
Foi assim, evitando ficar do lado de fora, que acabei mais fora do que nunca.
Eu não sabia mais quem eu era. Fazia coisas que detestava só para não me sentir excluída, e convivia com pessoas que nem gostava tanto só para não ficar sozinha.
Mas quando todos se foram, quem eu era, afinal?
Percebi que eu era uma bagunça; o graveto que sempre seguiu o fluxo do rio. E aí, meus amigos, era tarde demais. O estrago estava feito.
Demorei a me encontrar para além dos outros. Até hoje, sofro as consequências do medo que sentia de não fazer parte. É um exercício constante de me conhecer e me encontrar.
E é por estar sempre atenta a isso, e inserida no meio literário, que venho notando um comportamento prejudicial dos leitores de livros através das redes sociais.
Como a FOMO pode estar prejudicando os leitores de livros
Existe um estereótipo em torno da figura do leitor-devorador-de-livros que representa uma parcela dessas pessoas.
Já escrevi sobre como a propagação desse estereótipo pode prejudicar os leitores em outro contexto, mas aqui, quero mencionar outro ponto: o quanto fazer parte desse estereótipo faz sentido para esses leitores?
Quando todos estão falando sobre o lançamento do momento ou comprando um determinado livro por estar com um bom preço, muitos leitores sentem a pressão de não ficar de fora, mesmo não conseguindo dar conta de ler os livros que já possuem.
Esse consumo desenfreado e a necessidade de estar por dentro das leituras do momento tornaram-se um comportamento padrão, mas mais parece um comportamento problemático que está formando leitores ansiosos por não darem conta de ler ou acompanhar as novidades — “afinal, por que vou querer ler um livro do qual ninguém nunca falou, mas que está aqui na minha estante há anos porque julguei necessário comprá-lo em algum momento?”.
No fim, eu me pergunto: são realmente leitores vorazes? Ou compradores compulsivos?
“Mas então, e a solução para quem sofre da tal FOMO?”
Como não sentir FOMO?
Vou listar algumas ações recomendadas por psicólogos para diminuir a exposição à FOMO.
Algumas delas eu tento aplicar incansavelmente todos os dias.
Mas, pode ser que você não consiga lidar com essa síndrome sozinho e precise de ajuda profissional, o que é absolutamente normal e recomendável.
Lá vão as dicas:
Reduzir opções: Foque mais no ganho que você terá ao escolher o que faz sentido para você, em vez de ficar pensando no que vai perder ao deixar as outras opções de lado por não serem importantes naquele momento.
Aceitar que sempre perderemos algo: É o tal do “cada escolha, uma renúncia”.
Focar no processo e não somente no resultado final: Nas redes sociais, vemos sempre o “palco” das pessoas, mas não sabemos como são os bastidores e o caminho que as levaram até ali.
Tenha seus valores definidos: Nossos valores são elementos que guiam as nossas decisões. Tendo esses valores bem definidos, dificilmente tomaremos decisões baseadas no impulso e que nada tem a ver conosco.
Tenha atenção plena: Esteja presente no que está acontecendo a sua volta, em vez de interessado no que os outros estão fazendo em outros lugares.
Diminuir seus estímulos: Observe que tipo de informações e notificações estão chegando até você. É importante fazer essa checagem de tempos em tempos para filtrar o que realmente importa naquele momento.
Termino por aqui, deixando a indicação de um livro que estou lendo sobre saber identificar o que é essencial para nós. Estou curtindo bastante a leitura e tenho certeza que também pode te ajudar.
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