2023 foi o ano da inteligência artificial e agora nós já temos IA escrevendo livro, desenhando, atuando na área médica, tomando decisões e daí para frente.
Já escrevi um artigo sobre como esse avanço das atividades realizadas por inteligência artificial está impactando a área artística e literária.
Agora, o que acabei de descobrir e me rendeu ótimas análises foi a possibilidade de transcrevermos nossos pensamentos para a escrita através da inteligência artificial de maneira segura — grifei aqui porque essa parte é importante.
Como assim?
Em 2023, foram divulgadas duas pesquisas sobre a transcrição de pensamentos para a forma escrita. No início do ano, pesquisadores da Universidade do Texas publicaram o estudo na revista Nature Neuroscience. No final do ano, pesquisadores da Meta apresentaram uma pesquisa semelhante na Nature Machine Intelligence.
Resumindo, porque não vou descrever aqui todos os detalhes técnicos dessas pesquisas, alguns participantes passaram horas ouvindo podcasts e outros áudios. Simultaneamente, um tipo de scanner monitorava suas atividades cerebrais, realizando uma decodificação semântica. O intuito era que esse scanner “aprendesse” como o cérebro dessas pessoas respondia à linguagem que recebia, permitindo, posteriormente, uma transcrição precisa.
É semelhante ao exercício de completar lacunas em frases que todos já realizamos na escola durante a infância. Aqui, por meio do scanner, a IA assimila as potenciais maneiras de preencher essa lacuna, baseando-se na atividade cerebral da pessoa. Em seguida, ela consegue estruturar os pensamentos em uma transcrição organizada.
Essa prática já é possível há muitos anos mediante uma tecnologia implantada no cérebro por meio de cirurgia, tornando o processo invasivo e sujeito a riscos de lesão. Com essa nova tecnologia, será possível alcançar resultados mais refinados, eliminando a necessidade de procedimentos cirúrgicos.
A tecnologia empregada para essa decodificação semântica ainda não pode ser aplicada fora dos laboratórios, pois requer um scanner de grande porte. Entretanto, a expectativa é que, à medida que a tecnologia avançar, seja possível desenvolver um dispositivo portátil e acessível.
A transcrição ainda não está totalmente precisa. A IA consegue reproduzir o pensamento próximo ao original ou com exatidão em cerca de metade das ocasiões.
Mas, do jeito que as coisas andam, alguém duvida que não demorará muito para essa evolução acontecer?
O propósito inicial desse estudo é auxiliar as pessoas que perderam a capacidade de falar, como as que sofreram um AVC, por exemplo . Mas, como grande criadora de ideias que sou, já imagino o quanto essa tecnologia também pode nos ajudar em nosso processo criativo.
Inteligência artificial auxiliando nosso processo criativo
Já tem um bom tempo que os celulares oferecem a função de transcrever em mensagens de texto o que dizemos em seus microfones, e essa tecnologia se estendeu para diversos outros dispositivos.
Minha expectativa é que a tecnologia de transcrição de pensamentos também se torne popular. Imagine aquele momento em que temos uma ideia, mas não sabemos como organizá-la em palavras. Só eu sei as vezes em que gravei áudios e vídeos tentando explicar uma ideia, lançando palavras desconexas e contando com a boa interpretação da Thaís do futuro para entender o que eu estava pensando, rs.
Para além das ideias, ao escrever um livro, visualizo a possibilidade de fechar os olhos e imaginar as cenas em nossa mente, como é comum fazermos. No entanto, nesse cenário, a IA transcreverá tudo o que estaremos pensando, sem que tenhamos que fazer muito esforço. Adeus, tendinite e dores nos dedos de tanto escrever!
Brincadeiras à parte, precisamos estar atentos às possíveis evoluções que nos cercam para compreender onde nos encaixaremos.
Sempre que me deparo com uma grande evolução tecnológica em potencial, minha mente busca o papel dos contadores de histórias nesse avanço, mesmo que, até lá, eu possa não estar mais aqui — Quais são as possíveis consequências? Como podemos nos beneficiar? E de que maneira isso pode nos afetar negativamente?
Quer saber mais?
Você já ouviu falar nos óculos de realidade virtual? Em resumo, trata-se de um dispositivo que, quando utilizado, nos proporciona a sensação de estarmos em outro lugar, imersos em uma realidade virtual construída. Embora essa tecnologia pareça ter passado por um período de estagnação, cedendo espaço para as inteligências artificiais, fica evidente que seu avanço é iminente.
Os óculos de realidade virtual já estão sento utilizados em algumas áreas para emular situações e auxiliar no aprendizado de como resolvê-las, como médicos que utilizam para simular cirurgias, por exemplo.
No mercado literário, um novo formato de livro pode surgir. Imagino cenários virtuais sendo criados para que o leitor possa vivenciar a história contada no livro. Pode ser uma versão evoluída dos audiolivros, ou até mesmo do livro digital, nos possibilitando ler e acompanhar as imagens do que for descrito simultaneamente.
A propósito, já existem óculos de realidade virtual que “contam histórias” de livros, principalmente os didáticos, mas ainda está longe de ser um formato popular e sofisticado.
Essa evolução do livro, ao mesmo tempo que pode parecer incrível, traria consigo novas preocupações, pois poderia afetar o impacto que a leitura de livros tem em nosso cérebro — mas isso é assunto para outro dia.
Espero que essas ideias tenham despertado sua reflexão sobre o avanço tecnológico e nosso papel de, pelo menos, tentar não ficar para trás. Meu objetivo com este pequeno artigo não é mergulhar nas tecnologias de maneira técnica, mas alertá-los para as mudanças que ocorrem diariamente, para que possamos estar preparados para recebê-las e vivê-las — ou não.