Thais Nunes | Escritora e Autora

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O que acontece com nosso cérebro quando lemos

O impacto da leitura: O que acontece com nosso cérebro quando lemos?

Parafraseando a conhecida frase do movimento maromba: “esmaga que cresce”, vem aí: “leia que expande”.

O cérebro por si só, se é que posso usar o termo “só”, sempre me fascinou. Um órgão capaz de coordenar tantas funções ao mesmo tempo, a quem não fascinaria?

Nosso cérebro precisa de estímulos novos para criar novas conexões de neurônios e, consequentemente, tornar-se mais ágil e adaptado a uma variedade maior de estímulos.

Mas uma habilidade específica sempre me intrigou.

Cresci ouvindo e repetindo o quanto a leitura nos faz bem, amplia nosso vocabulário e nos permite ler cada vez mais rápido. Eu, como defensora da leitura, papagueei essas informações em qualquer oportunidade, até perderem o sentido; não que não tenham sentido, mas pensem comigo: quanto mais um grupo de palavras é exaustivamente repetido, mais o seu significado vai perdendo a importância e se tornando mais um clichê que não impacta nem estimula a reflexão.

Aí eu pensei: mas o que realmente ocorre em nosso cérebro quando lemos? Digo, cientificamente, quais as mudanças?

Durante esse período, mergulhei em algumas leituras sobre o cérebro, com uma delas se concentrando especificamente na leitura: O cérebro no mundo digital: Os desafios da leitura na nossa era. E foi esse livro que me trouxe as respostas que eu buscava.

A autora Maryanne Wolf, entre suas várias realizações, conduz pesquisas relacionadas ao letramento. Este livro é o resultado de uma investigação sobre o impacto da era digital em nossa habilidade de leitura.

De maneira didática, utilizando uma ótima analogia com o picadeiro de um grande circo, Maryanne explica todo o processo realizado por cada neurônio quando nossos olhos avistam uma única letra — é de cair o queixo.

Nos tópicos a seguir, reuni informações interessantes sobre o que acontece com nosso cérebro quando lemos, com base na pesquisa de Maryanne Wolf. Espero que te fascine, como me fascinou, e te inspire a ler mais.

O impacto da leitura,O que acontece com nosso cérebro quando lemos

O cérebro não é geneticamente preparado para ler

Deixe-me começar explicando, de maneira breve, que os neurônios são os responsáveis por transmitir impulsos ao cérebro. Quando o cérebro precisa armazenar uma nova informação, novas conexões de neurônios são criadas, estruturas originais são realocadas e outras já existentes são reconfiguradas. Esse processo nos permite realizar atividades que não foram preestabelecidas geneticamente, como aprender a ler o alfabeto.

A linguagem oral é uma das funções mais simples para nós, pois possuímos genes específicos para essa ação que exigem pouca assistência. Um exemplo bem conhecido é a forma como as crianças aprendem a falar. Não requer um aprendizado explícito; a linguagem se desenvolve naturalmente com base no ambiente de convivência da pessoa.

Já para realizar a leitura, nosso cérebro precisa utilizar várias áreas responsáveis por diferentes funções, incluindo linguagem e visão, por exemplo. Ocorre uma explosão de estímulos para que frases inteiras sejam compreendidas. Isso porque o cérebro não é geneticamente preparado para a leitura. Ler não é uma atividade natural do ser humano, por isso tantas partes do cérebro são ativadas para que haja compreensão do que está sendo lido.

Mas não existe um padrão de circuito e conexões quando se trata da leitura. O cérebro se molda conforme a necessidade de cada um.

A leitura transforma o cérebro de cada um de maneira diferente

Como o cérebro necessita ativar várias regiões para compreender a escrita, não podemos pensar que o “mecanismo” ocorre da mesma forma para todos.

A leitura de um texto em chinês exige estímulos diferentes daqueles necessários para a leitura de um texto em português, por exemplo. A experiência de vida do leitor também influencia as diferentes interpretações do texto. Além disso, o tipo de leitura realizada, seja curta ou longa, e a linguagem utilizada, entre outros fatores, podem variar interferindo na forma como essas informações são armazenadas em nosso cérebro.

O circuito de leitura está em constante mudança, pode evoluir ou regredir, dependendo da atividade do leitor.

Um trabalho de formiga para cada letra ser reconhecida

Para compreender uma única letra, grupos de neurônios trabalham em várias partes do cérebro, ativando áreas responsáveis pela visão para reconhecer as formas, e outras relacionadas à audição para identificar o som fonético. Partes do cérebro relacionadas à linguagem, cognição, funções motoras, emoção e visão estão conectadas para que uma única palavra seja reconhecida.

Agora multiplique essas ações pela quantidade de letras e palavras lidas em uma leitura concentrada!

“Quem ainda aceita e crença arcaica de que usamos somente uma parte mínima de nossos cérebros ainda não se inteirou do que fazemos quando lemos” — Maryanne Wolf

Essa explosão de estímulos é o que nos permite sentir que estamos sendo “transportados” para a história.

A leitura profunda nos “transporta” para outros cenários

É comum que um leitor iniciante sinta sono ou preguiça ao começar a leitura. Isso ocorre porque o cérebro tenta evitar o esforço árduo, já que não está habituado a realizar todas as atividades exigidas pela leitura.

Além disso, o cérebro tem a capacidade de armazenar partes de palavras, como morfemas, prefixos e sufixos. O cérebro de um leitor experiente desenvolve um padrão mais elaborado de informações para a leitura, tornando o entendimento cada vez mais fácil e eficiente. Esse é um dos motivos pelos quais a prática da leitura regular é fundamental para melhorar as habilidades de compreensão.

O cérebro precisa ser treinado para que uma bagagem de palavras seja construída. Assim, quando lemos uma frase completa, um cérebro treinado para a leitura não precisa decifrar cada palavra individualmente; ele pode acessar seu “banco de dados de palavras”. Isso é semelhante ao processo de preenchimento automático de palavras em um smartphone.

Mas esse armazenamento de informações só ocorre quando realizamos a leitura profunda.

A leitura profunda é aquela concentrada e atenta. Os leitores que alcançam esse nível de leitura muitas vezes se esquecem de que estão lendo um livro e passam a vivenciar a história de forma profunda, sentindo as emoções dos personagens, visualizando os cenários descritos pelo autor e até mesmo criando suas próprias imagens mentais.

Nesse tipo de leitura o cérebro nos permite ver, sentir e ouvir o que está sendo lido como se aquilo realmente estivesse acontecendo. Não é incrível?

Por isso tudo, não seria um exagero dizer que a leitura é uma viagem sem sair do lugar e que quem ler expande seus horizontes, explora novos mundos, culturas, ideias e perspectivas, tudo a partir do conforto da nossa mente.

Conheça minha lista de livros favoritos, quem sabe sua próxima leitura pode estar ali.


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