Thais Nunes | Escritora e Autora

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Os desafios da mudança de carreira

Os desafios da mudança de carreira: minha história

Não parece assustador ter que decidir, nas primeiras décadas, o que faremos incansavelmente pelo resto de nossas vidas? Sempre me pareceu uma corrida passar a adolescência respondendo constantemente perguntas sobre o futuro, tentando determinar nossa identidade e invejando aqueles que já tinham certeza. Apesar disso, seguimos o fluxo e acabamos por tomar decisões, afinal, a idade adulta chega e precisamos aprender a arte de pagar contas.

E depois?

Depois, pode surgir a satisfação de uma carreira bem construída; ou o tédio de atividades repetitivas; ou ainda, a tristeza causada por atividades que não têm o menor sentido para nós; ou, pior ainda, tudo isso junto, numa grande confusão.

Foi nesse emaranhado de dúvidas que me enrolei, após oito anos trabalhando na área contábil.

E os desafios começaram.

A seguir, você não encontrará dicas sobre como conduzir sua vida para alcançar a mudança que deseja. Em vez disso, como o título sugere, vou compartilhar minha experiência e os principais desafios da mudança de carreira que precisei enfrentar — com um toque dramático, como a romancista que sou.

Identificando a necessidade: tédio, mudança ou cansaço?

É comum em algum momento (ou em vários momentos) da nossa carreira, nos sentirmos cansados e sem saco para realizar atividades rotineiras — e, geralmente, umas boas férias resolvem o problema. Mas, quando esse desgosto não passa e tudo se torna uma grande chatice, o monstrinho da dúvida aparece.

Será que a vida se resume a trabalhar, pagar contas, esperar pela sexta-feira e sofrer no domingo à noite?

Ganhei dois períodos de férias quase consecutivos e voltei ao trabalho com o mesmo desânimo de antes, aquele que me dominava há meses. Depois de uma crise existencial, tentei colocar as coisas em ordem: o que eu realmente gostava de fazer? Qual era o meu propósito de vida? Qual era o meu talento?

E nessa de o-que-vou-fazer-da-minha-vida, o antigo sonho, e impossível, de ser escritora despencou na minha frente. Mas logo pensei: como eu poderia pagar as contas assim? — Confesso que ainda é uma dúvida que assola os meus dias, mas, naquela época, eu não sabia nem por onde começar.

Mas, bem, logo ficou claro por onde eu deveria começar: se eu já sabia o que queria ser, o que fazer com meu trabalho desmotivante atual?

O temido primeiro passo

Parece meio óbvio que eu não deveria largar tudo por um súbito sentimento de propósito de vida. Então, decidi conciliar as coisas.

Pesquisei os caminhos que deveria seguir, descobri formas de transformar meu antigo sonho em realidade e saí do buraco escuro e úmido onde estava. Parecia que, finalmente, tinha encontrado meu propósito de vida: queria contar histórias, sim, era isso!

Mas e o trabalho desmotivante atual?

Preenchi todas as horas vagas do meu dia com estudos e estratégias para me tornar uma escritora de sucesso e comecei a escrever um romance. Estava exausta e feliz com a nova direção que minha vida estava tomando.

Mas, ei! E o trabalho desmotivante atual?

Não sou realmente o tipo de pessoa que consegue dar importância a mais de uma atividade ao mesmo tempo; ou esqueço do mundo e dou todo meu foco para uma coisa, ou não foco em nada e deixo a vida me levar, aos trancos e barrancos. Por isso, meu rendimento no trabalho-desmotivante-atual estava péssimo e me dando crises de ansiedade. Eu precisava fazer alguma coisa!

Como cada um sabe onde seu calo aperta, este é o momento de olhar para a própria vida e entender como as peças podem se encaixar. Quando percebi que meu limite mental estava prestes a ser ultrapassado, meu marido e eu começamos a nos preparar financeira e psicologicamente para o meu momento de chutar o balde; de trocar o certo pelo duvidoso; de arrebentar a boca do balão; ou, se preferir uma versão mais romântica, de viver o meu sonho — note que eu disse “viver o sonho” e não “correr atrás do sonho”, porque, a essa altura, eu já estava correndo há bastante tempo!

O momento de admitir que meus dias naquele trabalho-desmotivante-atual, por mais desmotivante que fosse, foi dificílimo. Quase tive um treco antes de conversar com meu chefe. Depois, não senti alívio, como achei que sentiria, mas senti outra dose de medo.

Chutei o balde, e agora?

O último desafio dessa etapa de mudança chegou, trazendo o medo da incerteza; mas esse sentimento foi gradualmente se dissipando em um medo suave e aceitável. Afinal, sempre temos medo de nossa vida não dar certo, onde quer que estejamos, não é?

Hoje, tenho medo de imprevistos, de as coisas não acontecerem como planejei, mas não tenho medo da mudança. Entendi que não seria justo comigo não experimentar outras possibilidades. A experiência nos torna interessantes e preparados para a montanha-russa desgovernada que a vida é.

Por fim, preciso destacar que o que mais me marcou nesse trajeto foi a quantidade de pessoas que me confidenciaram a vontade de fazer o mesmo, mas com falta de coragem; pessoas infelizes com o seu trabalho, mas com medo de mudar. Eu disse: Medo de quê, se já está ruim agora?

O dinheiro pode até estar bom, mas e a cabeça, aquela que comanda tudo isso? A quantas anda?

Muitos aspectos da nossa vida influenciam a decisão de mudar nosso rumo profissional e eu jamais poderia dizer: olhe como eu fiz e faça igual!

Mas posso deixar um breve conselho:

Ninguém deve bancar o maluco sonhador, jogando tudo para o alto, a menos que tenha coragem e dinheiro suficiente para isso. Mas com um bom planejamento dá para transformar essa fantasiosa vontade em algo real — e se dará certo só o tempo vai dizer.

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Um comentário

  1. Thais Nunes

    E aí percebemos que a realidade é muito mais prática do que todo aquela ideia fantasiosa e distante! ❤

  2. Tabata

    Muito Lindo! Senti todas as emoções que vc viveu pela sua escrita! É preciso ter foco e coragem! As coisas sempre se encaixam! Bjo

    1. Thais Nunes

      Obrigada! ❤ É verdade, vamos planejando, caminhando e aos poucos a vida vai se encaixando.

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